Bem-vindos!

Sejam bem-vindos a este blog de uma brasileira que vive em Lisboa e "anda" por Portugal. Aqui vocês podem saber quais são minhas impressões desta terrinha lusa.
Lembrem-se: os meus textos estão escritos em português do Brasil, pois a maioria dos meus leitores é brazuca. Mas, com o passar do tempo, já cometo deslizes... Caraças, pá!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Frescuras e manias "gustativas"...

Já me chamaram de burguesa só porque eu não como pastel na lanchonete chinesa aí no Brasil, vulgarmente chamada de “china”. Penso da seguinte forma: se é para fazer tem que fazer direito. E isso refere-se à comida também. Se é para engordar, que seja com algo que dê prazer. Comida não é para encher, e aquele pastel é uma maçaroca! Comida é para dar prazer.
Gosto muito de comer. Tenho cabeça de gordo, sempre tive. Estou sempre pensando nos petiscos, na sobremesa, no que comerei ao jantar… Comida para mim não é apenas alimento.
Mas a questão que me aflige hoje é outra. Hoje passei na delicatessen do El Corte Inglés, para quem não conhece o El Corte Inglés é uma megaloja espanhola que vende tudo do bom e do melhor. Caríssima, naturalmente. Mas eu voltei à condição de estudante e os estudantes não têm lá muitas vontades. Aliás, ser estudante é a minha desculpa para muitas coisas. Sempre que os ceguinhos do metrô, mendigos ou pessoas de instituições de caridade me pedem dinheiro, respondo: “Não dá, sou estudante”. Geralmente, me safo bem... Hehehe. Mas é verdade, não posso gastar dinheiro com nada supérfluo. Mas, apesar da minha condição profissional, eu devo ter sido rica em outra encarnação. Como toda taurina que se preze, gosto de comer bem. Quando digo comer bem, não digo comer muito, digo comer comida bem-feita.
Mas o meu problema é que eu gosto de tudo que é caro. Para mim, quanto mais fungos o queijo tiver, mais gostoso ele é. Difícil escolher um queijo preferido. Qualquer um é bom. Além disso, aprecio novos sabores, como misturas entre doce e salgado e entre quente e gelado. Amo aqueles salgadinhos de festa dos casamentos de alto nível, bem sequinhos… Salgadinho oleoso é o que há de pior. Adoro chocolate belga e suíço. E a lista continua com palmito, tomate seco, geléias de todos os tipos, caramelos, compotas, frios, enchidos, defumados… Palmito é algo bem difícil de se encontrar por aqui. Além disso, é muito caro... Coisa de 10 euros o potinho. A maioria dos portugueses que eu conheço nunca comeu palmito. Tomate seco também é incomum. Difícil à beça de encontrar e é bem mais caro que aí no Brasil.
Eu também gosto de beber café na xícara. Fico com cara de decepção quando me dão copos de papel. Para sucos ou refrigerantes, o copo tem de ser de vidro. Odeio canudos! Também não consigo comer sem guardanapos e não gosto de cigarro velho e amassado.
Enfim, desabafei. Essas são algumas das minhas frescuras. E as suas, amigos leitores? Quais são?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Amália

Hoje, fui ao cinema assistir uma produção portuguesa sobre a vida da Amália Rodrigues, chama-se “Amália, o Filme”. O filme tem suas falhas, é longo demais, muitos flashbacks, meio confuso… Mas vale a pena.
Na minha opinião, a Amália Rodrigues está para Portugal como a Elis Regina para o Brasil e como a Edith Piaf para a França. Três mulheres inesquecíveis, com vidas trágicas e vozes fenomenais capazes de emocionar qualquer público. Canções que falam de dor, de sofrimento, de amor e de sentimentos. É música que brota, que vem das entranhas... Sem aula de canto, sem protools… O mais natural possível. Poucas pessoas nascem assim.
Em um trecho do filme, Amália, ao ver que as pessoas se aproximavam dela em busca de dinheiro, pergunta ao marido porque ela não pode ter uma vida normal como os outros. Ele responde: “Porque você não é como os outros”. Simples assim. E não era mesmo.
Outro diálogo que eu adorei retrata bem a mulher portuguesa. Um dos admiradores de Amália, um banqueiro português, diz a ela: “Tu não és fácil, pois não?” Ela responde: “Pois não. Sou portuguesa”. As portuguesas tradicionais não são realmente fáceis. São mulheres de fibra e extremamente emocionais. Tenho um exemplo na família. E Amália era assim. Em outra cena, após um concerto na França, um francês diz a ela que iria transformá-la em uma vedete francesa. Com uma cara de nojo e de estranhamento, ela responde: “Mas por quê haveria de ser francesa se nasci portuguesa?” Hahaha. Óptimo! (com “p” mesmo).
O filme também mostra o primeiro encontro de Amália com o ditador português Salazar. A fadista foi acusada, após a revolução, de ser aliada do regime. Muitos outros músicos portugueses lutaram arduamente contra o regime, assim como no Brasil, entre eles José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco, mas Amália escusou-se. Para a fadista, sua função não era se envolver na política, ela dizia que apenas queria cantar para o seu povo. Manteve uma relação, digamos, diplomática com Salazar e, após a Revolução dos Cravos, chegou a ser vaiada no palco. O filme mostra o primeiro concerto de Amália após a revolução. Sob acusações de “fascista” e “cantora do regime”, Amália entrou no palco. Em poucos minutos, sufocou os gritos com sua voz e foi aplaudida de pé. É só para quem pode…
O filme vale o preço do bilhete pela vida de Amália, pelas cenas em Lisboa e nas casas de fado, pelos diálogos, pela atriz que interpreta a fadista, pelo primeiro marido de Amália que é um colírio para os olhos (hehe) e pela música, é claro.
Já diz o ditado que “quem não gosta de samba, bom sujeito não é”, mas se você, meu amigo leitor, me disser que não gosta de fado, eu vou achar que você tem uma pedra no lugar do coração.