Bem-vindos!

Sejam bem-vindos a este blog de uma brasileira que vive em Lisboa e "anda" por Portugal. Aqui vocês podem saber quais são minhas impressões desta terrinha lusa.
Lembrem-se: os meus textos estão escritos em português do Brasil, pois a maioria dos meus leitores é brazuca. Mas, com o passar do tempo, já cometo deslizes... Caraças, pá!

segunda-feira, 23 de março de 2009

A Crise

Todos os dias, vejo a famosa “crise” e suas consequências no telejornal. Só falam nela. Na “maldita”. Se consultarmos algum economista, ele provavelmente nos dirá que a crise é natural. Que sempre foi e que sempre será assim. Que a economia baseia-se nessa idéia dos ciclos, que sempre há períodos de crise e outros de desenvolvimento económico.

Leio matérias e mais matérias que ressaltam a importância da crise em nossas carreiras, afirmando que a “maldita” representa um momento crucial na definição do nosso futuro. Que ótimo… Como se não bastasse o fato de eu fazer parte de uma geração naturalmente prejudicada, que não viveu o crescimento económico e que tem de lutar com unhas e dentes por um lugar ao sol, agora tenho de “repensar” meus planos? Para completar, escolhi uma profissão que gosto, mas que não me dá perspectivas futuras, afinal, jornalista é tudo f… Hehehe.

Esse cenário nada animador produz em mim uma profusão de sentimentos e sensações ruins: angústia, impotência, incapacidade, incerteza e medo. O que eu mais queria agora era ter certezas. Era garantir meu sustento. Ainda não foi possível. Já passei dos 25 e espero chegar lá. O pior é que eu sei que o Obama não vai me salvar. Não sei como caímos nessa balela de “american dream”. Quem foi que nos convenceu?

sábado, 7 de março de 2009

O primeiro assalto a gente nunca esquece

Hoje, saí com minhas amigas para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Fomos a um jantar na casa de uma delas e depois fomos ao Bairro Alto. Quando chegamos lá, já era um pouco tarde, por volta da 1h. Até então, estava tudo uma grande festa, encontramos até uma atriz portuguesa por lá. Em seguida, os bares começaram a fechar, e o ambiente começou a ficar estranho. Éramos cinco meninas e encontramos uns amigos... E sabe como é, o povo bebe e perde a noção do tempo. Nada do pessoal ir embora. Ficaram horas decidindo para onde iríamos e eu já estava perdendo a paciência. Até que eu, com meu instinto de sobrevivência carioca (hehe), notei que começou a aparecer um pessoal meio esquisito e pensei com meus botões: hora de zarpar! E dei um toque nas meninas. Não deu outra. Pancadaria da feia. Mas escapamos. Quando estávamos indo embora, a polícia já estava a caminho.
Decidimos que iríamos a uma discoteca ali perto e descemos. Uma das meninas, já com os copos, decidiu fazer xixi na rua, essas inconsequências que os bêbados cometem. Outra menina foi acompanhá-la. Até agora me arrependo de tê-las deixado para trás. Não devia ter feito isso, mas essas inconsequências dos bêbados às vezes me irritam. Custava esperar chegar à discoteca? Mas bem, ficamos lá na porta e nada das meninas. Ligamos loucamente... E nada. Rejeitavam as chamadas…. Depois de amaldiçoar nossas amigas, ficamos preocupadas e decidimos ver o que tinha acontecido. Um grupo de caras juntou as duas e levou dinheiro e celulares.
O assalto foi mesmo ao pé do carro da polícia. Mas como policial é igual em todo lugar do mundo, eles disseram que não podiam fazer nada, que elas só podiam prestar queixa. Encontrei uma de minhas amigas aos prantos. Ela começou a dizer que foi um grupo de pretos. Naquele momento, eu tentei abstrair o racismo que eu sei que ela tem e que me incomoda tanto e tentei entender que ela estava passando por um momento difícil. Começou a gritar que odiava pretos… Terrível. Eu disse a ela que os negros cometem mais crimes porque são mais pobres e têm menos oportunidades. Mas esse não foi o melhor momento para conversarmos isto. Deixa para a próxima.
Deixando de lado as questões racistas, eu comecei a me lembrar do primeiro assalto que sofri, pois o assalto de hoje foi o primeiro da minha amiga. Lembrei-me nitidamente como entrei em prantos, de como comecei a chorar e soluçar e de como me senti impotente. Principalmente, como fiquei com medo de morrer. Porque o meu primeiro assalto foi à mão armada, como todos os outros. Só pensava que podia ter morrido ali, naquele momento. Que a vida é efémera e que pode acabar a qualquer momento.
Eu sei que a minha amiga nunca mais vai caminhar nas ruas com a tranquilidade de antes. Eu nunca mais consegui. Mas sinto inveja dessa inocência que se perdeu hoje. Inocência que eu não tenho há muito tempo. Ando sempre atenta. Como um cidadão de qualquer metrópole mundial.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Coimbra, a cidade dos estudantes

Coimbra tem muitos encantos. Só quem conhece para contar. Não é como Lisboa, a capital, a cidade grande. Coimbra tem apenas 150 mil habitantes e é uma cidade de estudantes. No verão, não há quase ninguém a viver lá. Mas, durante o período de aulas, aquilo ferve.
Sei que já estou meio velha para falar de “espírito universitário”, mas eu fiquei emocionada com algo que vi e ouvi outro dia. Saí à noite em Coimbra durante a semana. A noite começou em um café como qualquer outro. Depois fomos ao bar da Associação de Estudantes de Coimbra. Fui de penetra, pois só é permitida a entrada de estudantes da Universidade de Coimbra. Mas consegui entrar. Neste bar, os finos (chopes) são vendidos a 50 cêntimos até a 1h, metade do preço normal. Dá para imaginar a loucura? Pois é. Loucura mesmo. Aqui o chope demora mais a esquentar, então as pessoas pedem vários de uma vez.
Nas paredes da Associação, há muitas fotos da época das manifestações estudantis e da luta contra o regime autoritário. Todos com seus trajes. Os trajes são uns fatos com umas capas que os estudantes usam em dias especiais. São iguais aos do Harry Potter para explicar melhor. Hehehe. Mas o das meninas é com uma saia na altura dos joelhos.
Fora estes detalhes, achei a Associação um bar como qualquer outro. Muitos estudantes, muita bebedeira e muitos alunos do Erasmus, o programa de intercâmbio entre os jovens europeus. Mas, no fim da noite, as músicas habituais cedem seu lugar para a tradição. Todos os dias, a Associação de Estudantes de Coimbra encerra a noite com o fado “Balada da Despedida”. O fado exalta a qualidade, os segredos e os mistérios da cidade dos estudantes. As pessoas se abraçam e cantam efusivamente. Algumas até choram, principalmente as que estão terminando o curso. É lindo. Dá mesmo vontade de chorar.
Vou colocar aqui um vídeo da música e a letra para vocês acompanharem.

Balada da Despedida

Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida
Qualquer coisa que não volta, que voou
Que foi um rio, um ar, na tua vida

E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra

Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'ra vida

Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'ra vida

Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica esperança de um dia aqui voltar

E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra

Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'ra vida

Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p'ra vida

O Carnaval

O Carnaval já passou faz tempo, mas eu demorei para escrever este post. Peço desculpas, andava às voltas com a minha dissertação.
Passei o Carnaval na Mealhada, fica na região centro de Portugal, no distrito de Aveiro, e tem um carnaval famoso, mais parecido com o nosso. A música é brasileira. Sambei até me acabar, algo que há tempos não fazia. Partido alto, samba e até axé. Hahaha. Eles promovem desfiles à tarde, têm escolas de samba e sempre convidam um artista brasileiro. O Oscar Magrini está sempre lá, mas vários outros já foram, entre eles, a Marieta Severo, o Murilo Benício e até mesmo o Reynaldo Gianecchini. Todas as meninas contam como ficaram loucas com ele! Mas, esse ano, a grana era pouca, e o ator convidado foi o Max Fercondini. Alguém sabe quem é?! Hehehe.
Bem, eu não vi os desfiles, só fui para lá à noite. As pessoas se fantasiam e essa é a parte mais divertida. Como é frio, dá para caprichar na fantasia. Tinha um cara vestido de vaca, com aquela roupa quentíssima! Tinha até umas tetas na barriga. Eu não tive tempo para arrumar uma fantasia diferente e acabei indo de cowboy. Nada original, eu sei, mas foi o que deu para arrumar.
No fim das contas, o balanço que eu tirei é que Carnaval fora do Brasil não existe. As pessoas não têm o mesmo espírito, e a animação, definitivamente, não é a mesma. Mas me diverti, sambei bastante e fui dormir de manhã. Mas, o melhor desse Carnaval foi a União da Ilha ter subido. Fiquei muito contente, com vontade de ser teletransportada para o Cacuia.