Bem-vindos!

Sejam bem-vindos a este blog de uma brasileira que vive em Lisboa e "anda" por Portugal. Aqui vocês podem saber quais são minhas impressões desta terrinha lusa.
Lembrem-se: os meus textos estão escritos em português do Brasil, pois a maioria dos meus leitores é brazuca. Mas, com o passar do tempo, já cometo deslizes... Caraças, pá!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O bacalhau

O bacalhau. Ah, perdição… Bacalhau a preço de banana. Bacalhau pronto, congelado, à venda no supermercado por 1 euro e pouco. Alegria para nós, brasileiros, que só comemos bacalhau em datas festivas, como o Natal e a Páscoa. Bacalhau com natas, à Brás, escorrido, ao Zé do Pipo, com batatas a murro, à Gomes Sá, não importa, é sempre maravilhoso, não tem como ficar ruim. Mas, de tanto comer bacalhau, já sinto falta do feijão preto… Como isso é possível?

A sopa

Portugueses têm o hábito de comer sopa antes das refeições ou até mesmo substituir a janta por uma sopinha, o que é muito saudável. O clima permite. Em qualquer lugar, é possível pedir uma sopa e elas são bem baratas, come-se uma sopa por menos de 1 euro. Eles têm fast food de sopas, até no Mc Donalds tem sopa! São de vários sabores: caldo verde, legumes, alho francês, couve, cebola, enfim, muitos tipos mesmo. No supermercado, há as sopas de saco, como temos no Brasil, aquelas da Maggi para misturar com água e umas já prontas, que só precisam ser aquecidas. Essas são melhores, pois não ficam com aqueles pedacinhos. Para quem gosta, é uma ótima pedida. Eu, pessoalmente, já estou um pouco farta das sopas.

Os chineses

Você certamente já ouviu falar que os chineses são a nova potência mundial e que vão dominar a economia mundial. Posso afirmar que aqui em Portugal, no que diz respeito ao mercado de roupas e bugigangas, eles já dominaram!
Existem lojas de chineses por todo o país e eles vendem de tudo: tupperware, roupa íntima, cacarecos, roupas, guarda-chuva, porta-retrato, abajures, enfim, é quase um Saara. E o melhor de tudo: muito barato. Já fiz várias compras nos chineses. Comprei umas calças de veludo por 10 euros cada! Uma pechincha. Sabe a expressão que usamos no Brasil, “vou no chinês”? Aqui também vamos, mas não vamos comer pastel, vamos às compras!

domingo, 16 de dezembro de 2007

O fado

Sábado, dia 15 de Dezembro, Teatro da Trindade. Baixa Lisboa, entre o Chiado e o Bairro Alto. Muito frio. Casa cheia. Às 21h30, começou uma das experiências mais importantes da minha vida. Mafalda Arnauth entrou no palco e deu início ao espetáculo intitulado Flôr de Fado. É muito difícil descrever com palavras o que se passou. Poucas vezes na vida vi algo tão emocionante. Não me emocionava assim desde que vi Maria Bethânia ao vivo.
Chorei como uma criança. Mafalda passeou sobre a história do fado, inovando, criando e representando com maestria. Digo a vocês, não passem pela vida sem presenciar isto. É para amar Portugal pra sempre! "Ó pátria lusa, ó minha musa, o teu gênio é português".

Deixo aqui a letra de Lusitana, do compositor Fausto, entoada por Mafalda Arnauth no concerto.

Fausto. “Lusitana”

Doce e salgada
Ó minha amada
Ó minha ideia
Faz–me grego e romano
Tu gingas à africano
Como a sereia
Ó bailarina
Ó columbina
És a nossa predilecta
De prosadores e poetas
Dos visionários
Quem te vê ama de vez
Nómadas e sedentários
Ó pátria lusa
Ó minha musa
O teu génio é português

Doce e salgada
Ó minha amada
Das epopeias
Tu és toda em latim
E a mais mulata sim
Das europeias
Ó bailarina
Ó columbina
Do profano matrimónio
“nas andanças do demónio"
Bela e roliça
Ai dança a chula requebrada
A minha canção é mestiça
Ó pátria lusa
Ó minha musa
O teu génio é português
Teu génio meigo e profundo
É deste tamanho do mundo
Sentimental como eu
Dois corações pagãos
São de apolo e de orfeu
Guarda-nos bem fraternais
No teu chão
No teu colo
De sonhos universais
És o nosso almirante
Terna mãe de crioulos
Cuida da nossa alma errante
Nós só queremos teu consolo

Doce e salgada
Ó minha amada
Da companhia
És um caso bicudo
Tu és o–mais-que-tudo
Da confraria
Ó bailarina
Ó columbina
Tu és a nossa doidice
Meiga “amante de meiguices"
Eu te proclamo
Quem te vê ama de vez
E a verdade é que eu te amo
Ó pátria lusa
Ó minha musa
O teu génio é português.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Primeiro dia no call center

Olá, amigos! Arrumei um bico enquanto não arrumo um emprego de verdade. Comecei hoje a trabalhar em um call center, o que nós chamamos no Brasil de telemarketing. São apenas três horas por dia, dá pra conciliar com o mestrado. O ambiente é bem divertido, minha supervisora é baiana, mas uma baiana já sem sotaque. Tenho que vender TV a cabo via satélite para os lugares do interior de Portugal em que a TV a cabo não chega. Não sei se dou conta, falei com muitos velhinhos e alguns até desligaram na minha cara! Hahaha. Os velhinhos tadinhos, reclamam da vida, contam suas lamúrias, que os filhos os abandonaram, é uma tristeza… Mas, às vezes, até que é divertido. Nunca pensei que trabalharia com isso, mas isso é bem comum por aqui entre os estudantes e parece que dá pra descolar uma graninha. A vida aqui é mais cara e estou até me sentindo mal porque o dinheiro só vai embora e não entrou nenhum por enquanto. Mas só estou há um mês aqui, acho que é normal. Estava ocupada com a regularização de documentos, procurando um lugar pra morar, mas agora estou estabilizada, com endereço fixo. Já estou à procura de um estágio curricular, acho que é a maneira mais fácil de entrar no mercado de trabalho aqui. A faculdade tem uns convênios com algumas empresas de comunicação e eles fazem esse encaminhamento. Torçam por mim!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Há malucos por toda a parte!

Respondam com sinceridade: tenho cara de boa samaritana? Às vezes, penso que sim. Hoje, estava eu na rodoviária de Coimbra à espera de um ônibus pra Lisboa quando um homem me abordou. Ele tinha cara de maluco, parecia coisa de filme, dava até medo. Ficava revirando a cabeça, mexendo nos cabelos… Era pele e osso… Perguntou se eu podia comprar sua passagem pra Lisboa, detalhe: a passagem custa 12 euros. Desculpa lá, como dizem aqui, mas com 12 euros eu almoço uns três dias! Dizia e repetia:
- Não quero dinheiro, não aceito dinheiro, só peço que me comprem a passagem. Estou sem documentos e não sei mais o quê. Não preciso de dinheiro, pois tenho uma herança pra receber, só preciso chegar a Lisboa. Herança? Sei…
Outro dia, estava no metrô, e uma mulher maluca começa a gritar:
- Eu vou pra Genebra com meu namorado sim! Seus filhos da puta de merda! Vão se fuder todos vocês!
Nesse nível… Todos os passageiros se entreolharam sem entender nada. Tinha um grupo de indianos sentados ao meu lado, eles perguntaram se eu falava inglês, eu disse que sim, e eles quiseram saber o que a louca estava falando. Disse a eles e eles caíram na gargalhada.
Ah, ainda tem mais uma. Estava no supermercado e presenciei uma cena deprimente. Uma mulher por volta de seus 50 anos colocou um caldo knorr no bolso e tentou sair do supermercado toda serelepe! Foi pega e começou o maior quebra-pau com a caixa de supermercado. Maior vexame! Ela ainda teve a cara de pau de dizer: coloquei no bolso, mas não foi de propósito não… Realmente, há malucos por toda a parte!

Guia de sobrevivência em Portugal

A princípio, a língua é a mesma, mas é tão diferente. Elaborei aqui uma lista de palavras diferentes. Portanto, quando vierem me visitar na terrinha, já sabem o que dizer. Primeiro, colocarei as palavras como nós dizemos, em seguida, como eles dizem.
Ônibus: autocarro
Trem: comboio
Metrô: metro
Crianças: putos, miúdos.
Esmalte: verniz
Xampu: champô.
Canudo: palhinha
Alô: Tô.
Legal: giro, fixe
Pastel: pastel de nata.
Pastel de bacalhau: bolinho de bacalhau
Presunto: fiambre.
Misto quente: tosta
Sanduíche: sande
Laptop: portátil
Celular: telemóvel
Café com leite: galão
Papai Noel: Pai Natal
Cigarro: tabaco
Área de fumantes: sector de fumadores
0% de gordura: 0% de matéria gorda
Leite desnatado: leite magro
Leite semi-desnatado: leite meio gordo
Robin Hood: Robin dos Bosques
Carré: bifana
Camiseta: camisola
Nabiça: é uma espécie de couve
Xerox: fotocópia
Esporte: desporto
Absorvente: penso higiênico
Sumo: suco
Alho poró: alho francês

Isso foi o que me lembrei, mas tem muito mais. Isso sem falar nas palavras que são pronunciadas de modo diferente. Estas geram imensa confusão. Os portugueses não dizem infecção, dizem infeção. Também não dizem recepção, dizem “receção”. É quase recessão!!!
E a escrita? Acho que eles quase não usam o circunflexo. Sério. Escrevem económico, francés… O trema eles já aboliram. Também usam o “p” mudo em palavras como adopção e óptimo. Todas as publicações daqui citam o acordo ortográfico. É pauta do dia! Eles vão sofrer para se adaptar. Bem mais que nós… Mas vai ser bom.