Bem-vindos!

Sejam bem-vindos a este blog de uma brasileira que vive em Lisboa e "anda" por Portugal. Aqui vocês podem saber quais são minhas impressões desta terrinha lusa.
Lembrem-se: os meus textos estão escritos em português do Brasil, pois a maioria dos meus leitores é brazuca. Mas, com o passar do tempo, já cometo deslizes... Caraças, pá!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Frescuras e manias "gustativas"...

Já me chamaram de burguesa só porque eu não como pastel na lanchonete chinesa aí no Brasil, vulgarmente chamada de “china”. Penso da seguinte forma: se é para fazer tem que fazer direito. E isso refere-se à comida também. Se é para engordar, que seja com algo que dê prazer. Comida não é para encher, e aquele pastel é uma maçaroca! Comida é para dar prazer.
Gosto muito de comer. Tenho cabeça de gordo, sempre tive. Estou sempre pensando nos petiscos, na sobremesa, no que comerei ao jantar… Comida para mim não é apenas alimento.
Mas a questão que me aflige hoje é outra. Hoje passei na delicatessen do El Corte Inglés, para quem não conhece o El Corte Inglés é uma megaloja espanhola que vende tudo do bom e do melhor. Caríssima, naturalmente. Mas eu voltei à condição de estudante e os estudantes não têm lá muitas vontades. Aliás, ser estudante é a minha desculpa para muitas coisas. Sempre que os ceguinhos do metrô, mendigos ou pessoas de instituições de caridade me pedem dinheiro, respondo: “Não dá, sou estudante”. Geralmente, me safo bem... Hehehe. Mas é verdade, não posso gastar dinheiro com nada supérfluo. Mas, apesar da minha condição profissional, eu devo ter sido rica em outra encarnação. Como toda taurina que se preze, gosto de comer bem. Quando digo comer bem, não digo comer muito, digo comer comida bem-feita.
Mas o meu problema é que eu gosto de tudo que é caro. Para mim, quanto mais fungos o queijo tiver, mais gostoso ele é. Difícil escolher um queijo preferido. Qualquer um é bom. Além disso, aprecio novos sabores, como misturas entre doce e salgado e entre quente e gelado. Amo aqueles salgadinhos de festa dos casamentos de alto nível, bem sequinhos… Salgadinho oleoso é o que há de pior. Adoro chocolate belga e suíço. E a lista continua com palmito, tomate seco, geléias de todos os tipos, caramelos, compotas, frios, enchidos, defumados… Palmito é algo bem difícil de se encontrar por aqui. Além disso, é muito caro... Coisa de 10 euros o potinho. A maioria dos portugueses que eu conheço nunca comeu palmito. Tomate seco também é incomum. Difícil à beça de encontrar e é bem mais caro que aí no Brasil.
Eu também gosto de beber café na xícara. Fico com cara de decepção quando me dão copos de papel. Para sucos ou refrigerantes, o copo tem de ser de vidro. Odeio canudos! Também não consigo comer sem guardanapos e não gosto de cigarro velho e amassado.
Enfim, desabafei. Essas são algumas das minhas frescuras. E as suas, amigos leitores? Quais são?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Amália

Hoje, fui ao cinema assistir uma produção portuguesa sobre a vida da Amália Rodrigues, chama-se “Amália, o Filme”. O filme tem suas falhas, é longo demais, muitos flashbacks, meio confuso… Mas vale a pena.
Na minha opinião, a Amália Rodrigues está para Portugal como a Elis Regina para o Brasil e como a Edith Piaf para a França. Três mulheres inesquecíveis, com vidas trágicas e vozes fenomenais capazes de emocionar qualquer público. Canções que falam de dor, de sofrimento, de amor e de sentimentos. É música que brota, que vem das entranhas... Sem aula de canto, sem protools… O mais natural possível. Poucas pessoas nascem assim.
Em um trecho do filme, Amália, ao ver que as pessoas se aproximavam dela em busca de dinheiro, pergunta ao marido porque ela não pode ter uma vida normal como os outros. Ele responde: “Porque você não é como os outros”. Simples assim. E não era mesmo.
Outro diálogo que eu adorei retrata bem a mulher portuguesa. Um dos admiradores de Amália, um banqueiro português, diz a ela: “Tu não és fácil, pois não?” Ela responde: “Pois não. Sou portuguesa”. As portuguesas tradicionais não são realmente fáceis. São mulheres de fibra e extremamente emocionais. Tenho um exemplo na família. E Amália era assim. Em outra cena, após um concerto na França, um francês diz a ela que iria transformá-la em uma vedete francesa. Com uma cara de nojo e de estranhamento, ela responde: “Mas por quê haveria de ser francesa se nasci portuguesa?” Hahaha. Óptimo! (com “p” mesmo).
O filme também mostra o primeiro encontro de Amália com o ditador português Salazar. A fadista foi acusada, após a revolução, de ser aliada do regime. Muitos outros músicos portugueses lutaram arduamente contra o regime, assim como no Brasil, entre eles José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco, mas Amália escusou-se. Para a fadista, sua função não era se envolver na política, ela dizia que apenas queria cantar para o seu povo. Manteve uma relação, digamos, diplomática com Salazar e, após a Revolução dos Cravos, chegou a ser vaiada no palco. O filme mostra o primeiro concerto de Amália após a revolução. Sob acusações de “fascista” e “cantora do regime”, Amália entrou no palco. Em poucos minutos, sufocou os gritos com sua voz e foi aplaudida de pé. É só para quem pode…
O filme vale o preço do bilhete pela vida de Amália, pelas cenas em Lisboa e nas casas de fado, pelos diálogos, pela atriz que interpreta a fadista, pelo primeiro marido de Amália que é um colírio para os olhos (hehe) e pela música, é claro.
Já diz o ditado que “quem não gosta de samba, bom sujeito não é”, mas se você, meu amigo leitor, me disser que não gosta de fado, eu vou achar que você tem uma pedra no lugar do coração.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A síndrome da sexta-feira

Sabe a “síndrome da sexta-feira”? Eu chego à conclusão de que a “síndrome da sexta-feira” é algo tipicamente brasileiro. Nós esperamos o fim-de-semana com uma ansiedade tamanha, a sexta nunca chega e, cá entre nós, a sexta-feira é o melhor dia da semana. Dia de sair de casa, de encontrar o namorado, os amigos... E o melhor de tudo: mais dois dias livres pela frente.
Para quem trabalha no centro da cidade então… A sexta é o dia da “esticada” depois do trabalho. Do chope, do papo com os amigos, do happy hour, da pizza, do frango à passarinho, do acarajé e do engarrafamento na volta para casa... Mas nada disso importa, pois é sexta-feira. Nosso humor muda, e ficamos mais felizes e sorridentes.
Pois então, tenho que vos contar que aqui não é assim. Para a maioria dos portugueses, a sexta-feira é um dia de descanso. O dia escolhido por eles para sair geralmente é o sábado. Os estudantes saem mais durante a semana e, nos fins-de-semana, a maioria deles vai visitar os parentes no interior. Esse é o meu caso agora. De 15 em 15 dias, tenho ido à casa da minha avó no interior. O fim-de-semana por lá está ficando agitado. Descobri um bar de “fumadores” (aleluia!), pois o frio está de rachar e não dá para passar frio para fumar. Como também não dá para não fumar, o negócio é arrumar um bar de “fumadores” (leia-se fumantes). E achei! O nome do bar é Karranka e tem uma programação legal: bandas de rock e djs (meu pc não tem apóstrofo, abstraiam!).
Também já tenho amigos por lá e estou gostando muito de ir à terrinha. Chato é passar o fim-de-semana em Lisboa sem dinheiro. Lisboa sem grana é mesmo chata! Além disso, minhas amigas quase nunca ficam na cidade nos fins-de-semana e fico sem companhia.
Mas posso dizer que, até hoje, não perdi a “síndrome da sexta-feira”. Continuo aguardando o fim-de-semana e, quando a sexta-feira chega, fico louca para sair de casa. Agora, aguardo o fim-de-semana que vou à minha avó, ter com meu novo namorado. Pois é, amigos, arrumei um namorado que mora longe... Quase um namoro virtual. Hehehe. Mas, por um lado é bom, pois dá saudade e me dedico mais aos estudos. Tenho de me adaptar a essa nova realidade e esquecer que “tenho de sair na sexta-feira”…
Mas, neste fim-de-semana, vou ver vovó! Então, já tenho motivos para aguardar a sexta-feira.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ao pé de casa… O paraíso

Vocês não sabem o que eu descobri ao pé de minha nova casa… Um podrão! Hahaha. E dos bons! Que fica aberto até as seis da matina! Que alegria… O podrão é de um pessoal do Brasil e, além de venderem os tradicionais sandubas, também vendem o nosso pastel, doce de leite, paçoca, cocada e, pasmem, coxinha com catupiry! Enfim, é o paraíso.
E o hambúrguer é de boa qualidade… Não sei se vocês têm idéia, mas por aqui é difícil encontrar hambúrgueres sem aqueles nervinhos nojentos.. Esse não tem! E eles ainda dão maionese e ketchup.. Tô tão feliz! Hahaha. Amanhã vou comer pastel. Custa dois euros, vai ser o pastel mais caro da minha vida. Também tô louca pela coxinha…
Norton, depois te digo qual é a nota! Hehehe. Mas o meu tempero, a saudade, vai contribuir bastante para o meu julgamento.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Olá, amigos!

Já cá estou de volta há quase dois meses e ainda não havia escrito nada. Peço sinceras desculpas e espero que as pessoas não desistam de ler o blog em função da minha pouca assiduidade. Hehehe. Minha vida anda muito atribulada, e agora estou vendo o que realmente é estudar. O lance agora não é estudar para passar, é estudar para arrasar!
O ritmo está pesado, mas estou começando a gostar dessa história de seguir carreira académica. Sem falar que, como vou estudar meios de comunicação de massa, voltei a ler os grandes teóricos da comunicação: Adorno, Benjamin, Umberto Eco e companhia. É divertido, mas, ao mesmo tempo, dá muita saudade dos tempos da PUC… Aqui em Portugal, eles recorrem a muitos teóricos ingleses também, mais recentes, que nós não costumamos estudar no Brasil. Estou empolgada, mas sei que ainda tenho muito trabalho pela frente. Mas é importante ressaltar que minha dissertação é atual, não vou ficar apenas no campo teórico. Análise quantitativa! Estou mesmo lascada…
Lisboa não é mais novidade para mim, mas, nas minhas saídas, tenho descoberto lugares novos e diferentes. Apesar de pequena em relação ao Rio de Janeiro, Lisboa tem seus encantos.
Aqui já é Outono. As folhas das árvores já caem, e a cidade está cada vez mais bonita. Já se vendem castanhas assadas nas ruas em todas as esquinas. Como diz o fado, Lisboa cheira a castanhas. E “cheira bem, cheira a Lisboa”.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Uma amiga para a vida toda

Amanhã fecho mais um ciclo. Deixo meu quarto e vou passar uns dias na casa da minha avó antes de ir ao Brasil. Deixo também minha amiga chinesa, a Pan Tan, ou Helen, como prefere ser chamada. Ela volta para a China em setembro. Segundo ela, ninguém consegue falar corretamente seu nome, então ela prefere ser chamada pelo nome que lhe foi dado pela professora do curso de português. A propósito, aqui em Portugal, eles dizem Elen, pois não pronunciam o “agá”.
A Helen apareceu por acaso em minha vida. Alugou o quarto e foi se chegando, de repente, com uma simpatia de dar inveja a nós, brasileiros. A Helen ter orgulho em ser chinesa, é uma “business woman”. Ela nunca ouviu falar no Nirvana, nos Rolling Stones e só tinha visto a Madonna depois de velha. Mas ela gosta da Madonna. Acha “very nice”.
O português da Helen evoluiu muito, mas eu, por conformismo e um pouco de egoísmo, prefiro comunicar-me com ela em inglês, que, por sinal, depois destes seis meses de conversação, está bem mais fluente.
A Helen me ensinou muitas coisas sobre a vida e sobre como olhar o mundo. Ensinou-me a ser mais paciente, a pensar à frente, a ter mais confiança e a acreditar mais nas pessoas. Ela não é budista, acredita no “fluxo de energia” e está sempre falando nisso. Ela não entende como alguém pode ir para a cama com alguém que mal conhece, mas entende como alguém pode se casar virgem. Os valores da Helen são totalmente diferentes dos valores ocidentais.
É uma menina do Norte da China, mas estudou em Xangai. Ama Xangai e quer passar o resto dos seus dias por lá. Não tem irmãos, como era de se esperar, mas gostaria de ter muitos.
A Helen come couve no café da manhã. Frita tudo. Tem uma frigideira enorme. Em compensação, come frutas o dia todo. Ela também toma chá de flores. Várias florzinhas boiando na caneca. Tenho vontade de vomitar!
O computador e o celular dela são em chinês. Ou melhor, em mandarim. Mandarim é a língua oficial da China. É a língua escrita oficial porque, no que diz respeito à fala, o negócio é diferente. Existem muitos dialetos no país. Ela me explicou que o mandarim tem mais de 5 mil caracteres e que eles expressam idéias, não correspondem a letras, como os caracteres do nosso alfabeto. É claro que os 5 mil caracteres não conseguem exprimir tudo que deve ser dito, portanto, alguns caracteres são utilizados juntamente, ou seja, algo realmente complicado para nós, ocidentais, entendermos.
Ela me mostrou música pop chinesa no youtube. Também me mostrou a música tradicional e fotos maravilhosas. Ela me disse que os homens chineses tratam as mulheres como princesas. Ela acha que os homens europeus são agressivos.
Ela me contou como nasceu o Japão! Segundo ela, há milhares de anos atrás, o imperador da China queria tornar-se imortal e mandou um barco com 100 moças e 100 rapazes chineses para o mar em busca do segredo da imortalidade. Algo meio Arca de Noé, mas sem os animais. Eles, obviamente, não o encontraram e acabaram por fixar-se em uma ilha, cultivaram a terra, reproduziram-se.. Daí surgiu o Japão! Adorei essa história e perguntei a ela se era uma lenda. Ela disse que não, pois os chineses são obcecados por essa idéia de vida longa e imortalidade, portanto, ela não acha difícil que, há milhares de anos atrás, o imperador acreditasse nessa possibilidade. Além disso, ela me disse que existem muitas semelhanças entre o mandarim e o japonês. Segundo ela, ela consegue entender o japonês escrito, mas não consegue falar.
Ela disse também que só se comem insetos e cachorros em uma parte da China. Ela não come, mas apareceu em casa, uma vez, com uns pés de galinha nojentos e não cansava de dizer que aquilo era delicioso. Até pegou uma receita na Internet.
A Helen acha o povo português muito pessimista. Ela comprou o Interrail e viajou a Europa toda. Adorou Veneza, mas não gostou muito de Paris. Ela não sabe lavar a louça direito. Ela diz que é gorda para os padrões chineses. Ela queria inscrever-se em uma aula de hip-hop! Ela adorou o Alexandre. E ele também a adorou. Mesmo com as “falhas” na comunicação.
Ela é íntegra, honesta, parceira e muito educada. Leonina. Ela nasceu no mesmo ano que eu. No horóscopo chinês, somos cachorro. Isso quer dizer que somos leais. Vou sentir falta dela. Das pipocas, das noites vendo desenhos animados e filmes da Disney. Dos conselhos. De tudo! I will miss you, my chinese friend!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Família em Portugal

Na última quarta-feira, meu pai, minha irmã e minha madrasta voltaram para o Brasil. Eles estiveram aqui por três semanas e estive com eles este tempo, lá na terrinha, mas viajamos bastante. Já me sinto só, depois de tanto tempo, estou novamente sem companhia. A boa notícia é que vou ao Brasil em setembro! Nem acredito ainda. Acho que só vou acreditar quando tiver a passagem em mãos. Mas não, nada vai atrapalhar meus planos. Hehehe. Já estou de férias, mas a passagem está muito cara agora em agosto, o preço cai quase pela metade em setembro! Tem de ser assim. Assim sendo, vou ver se descolo um emprego de verão para ganhar dinheiro agora em agosto e me ocupar.
Este período com a minha família foi ótimo, pois serviu para eu conhecer pessoas da minha família que eu não lembrava ou que nunca tinha conhecido. Minha irmã também já está crescidinha e me faz companhia. Além disso, passamos por muitos lugares legais: Batalha, cidade onde os portugueses derrotaram os espanhóis pela primeira vez quando estes dominaram Portugal; Fátima, cidade em que Nossa Senhora de Fátima fez sua primeira aparição e que recebe peregrinos o ano todo; Buçaco, é um lugar que tem um hotel lindíssimo em que o rei e a rainha hospedavam-se; Conimbriga, é uma cidade antiga que ainda está sendo escavada e que foi sede de uma civilização no século VII A.C.; Coimbra, bem, acho que essa dispensa explicações e Aveiro, que é uma cidade maior, mais desenvolvida. Também fomos a Santiago de Compostela, capital da Galiza, na Espanha. A cidade é uma graça e a catedral é imensa. O Paulo Coelho descreve o caminho para Santiago de Compostela no “Diário de um Mago”. Mas não fiz a peregrinação, fui de carro mesmo. Hehehe. Para ver mais, vejam minhas fotos no orkut. Y hasta luego, amigos!

Sem saco para escrever..

Alguém tem uma fórmula que diga como criar uma rotina para escrever no blog? Ainda não descobri como fazer isso. Mas, sinceramente, acho que o legal disso aqui é escrever quando eu quero, sem obrigação. Quando estou “in the mood”, quando dá na telha, quando me apetece..

Madri!

Vou começar descrevendo minha viagem a Madri ou Madrid como dizem por aqui. Uma amiga minha do Brasil, a Milena, que muitos de vocês conhecem, esteve aqui em Lisboa a trabalho e decidimos passar um fim-de-semana na Espanha. Chique, não? Não, não tem nada de chique. Nós, brasileiros, temos que parar com essa idéia que tudo por aqui é chique, não é! Muitos amigos vêem minhas fotos e dizem: “ai, que chique!” Às vezes, o lugar não tem nada de chique, é uma rua comum, que só parece chique porque eu apareço usando casacão e cachecol. Eu penso que o frio deixa os lugares mais chiques para quem vê, ainda mais aos nossos olhos, pois vivemos em um país tropical. Não dá para ficar chique usando short e havaianas, né?
Bem, mas em Madri não estava frio, muito pelo contrário. Estava um calor dos infernos, digno de um dia de verão no Rio de Janeiro. Viajamos de trem em uma cabine com dois beliches. Demos sorte, pois as meninas que iam viajar conosco não apareceram e a cabine ficou só para nós. Nunca tive uma viagem tão confortável. Dormi em Portugal e acordei na Espanha. De capital para capital em 12 horas. Foram 12 horas muito bem dormidas.
Saímos da estação de trem e pegamos o metrô. Vocês não têm idéia de como é confuso o metrô nesta cidade. São 12 linhas! Mas, de forma geral, nos saímos bem e fomos ao hotel. Pagamos um supermico de turistonas, pois compramos aquele passe do ônibus turístico, que é aberto no andar superior. Não foi uma escolha muito feliz, pois com o calor que estava fazendo a viagem não era nada agradável lá em cima.
No primeiro dia, fomos ao Museu do Prado. Isso sim foi chique. Nunca tinha visitado um museu com obras de arte tão famosas, fiquei alucinada! Vimos uma exposição do Goya e o acervo do museu, que conta com obras de El Greco, Rafael, Velásquez, Tiziano, Rembrandt e Bosch, além de muitos outros. O museu é enorme e essa pressa em ver tudo deixou-me extremamente aflita. Pouco tempo e tanta coisa para ver, para assimilar.. Outro dia, em uma aula de estética, um professor meu disse que nós não vivemos mais na era da contemplação e que, por isso, a pintura não atrai mais tanta atenção das pessoas, que, hoje, é necessário movimento. É a era da imagem em movimento e da interatividade. Acredito que os organizadores de exposições deveriam pensar mais nisso para atrair mais frequentadores. Interatividade não é passar um videozinho, é apelar para todos os sentidos. Isso não nega a pintura, mas por que não “acoplar” música e pintura? Acho que as pessoas poderiam receber fones de ouvido que funcionassem como uma espécie de guia, sei lá. Só sei que algo precisa ser feito. Enfim, essa é uma opinião pessoal, mas não acho que algo escrito em uma parede funcione.
Ainda no primeiro dia, decidimos encontrar o Porky, um amigo nosso que está morando em Madri. Ele foi muito legal com a gente, nos encontrou no hotel e fomos andando até o centro. Mais uma vez, optamos pelo programa de turismo: 10 euros por três discotecas com direito a uma bebida em cada uma. A primeira discoteca era muito fraquinha e o calor estava de matar. A que eu mais gostei foi a segunda, mas não era bem uma discoteca, era um pub irlandês com música. Era véspera da final do Euro (Espanha e Alemanha) e, em todos os lugares, ouvia-se aos berros o hino da Espanha. Os espanhóis são mesmo barulhentos. Saindo dessa discoteca, fomos para a última. Vocês não têm idéia de qual foi meu espanto. Uma espanhola na noite é pior que dez brasileiras juntas. É sério. As mulheres se esfregam em todos os caras do lugar! Fiquei no meu cantinho, encostada na parede, amuada.. E exausta! O dia seguinte seria mais um longo dia.
No domingo, acordamos o mais cedo que conseguimos e fomos à Feira do Rastro com o Porky. É uma feira da ciganada, uma espécie de Uruguaiana gigante. O cuidado é o mesmo, bolsa bem presa embaixo do braço. Os ciganos têm a fama de serem mestres na arte de bater carteira, principalmente as senhorinhas. É preciso ficar atento. Não gostei de muita coisa na feira, mas acabei comprando um vestido meio riponga e, é claro, leques!
Em seguida, voltamos à supermaratona dos museus. Fomos primeiro ao Museu Reina Sofia e estava quase fechando. A propósito, na Espanha, a sesta é oficial. É verdade! Duas horas para tirar uma soneca depois do almoço. Depois, somos nós que não gostamos de pegar no batente! Enfim, conseguimos entrar no museu! De graça. Era uma promoção nesse dia. É neste museu que fica Guernica. A dimensão do quadro é absurda! É uma coisa enorme. Lindo de morrer. O museu também tinha muitos outros quadros de Picasso, Dalí, Mondrian, Miró.. Este museu era mais moderno. Fomos correndo depois ao museu Van Thyssen. Esse foi um dos mais lindos. Dalí, Van Gogh, Lautrec, Degard, Degas (eu vi o da bailarina!), Monet, Renoir, Modigliani.. Achei o máximo o fato de eles colocarem banquinhos nas salas para olharmos os quadros. No fim, não conseguia mais andar. A dor muscular estava forte e não tinha nenhum Dorflex por perto.
Fora tudo isso que acabei de contar, vi o estádio do Real Madrid; dei um pulo no bairro dos escritores, onde Cervantes viveu; tomei meu primeiro Starbucks; pensei no Alexandre o tempo inteiro, em como ele iria morrer em ver todos aqueles quadros de pertinho e no quanto quero fazer isso com ele; comi comida espanhola; fui no Mc Donalds (meu computador não tem apóstrofo) espanhol, pois a grana já estava curta; vi o entusiasmo dos torcedores espanhóis e seu vandalismo no metrô; tirei muitas fotos e tentei falar espanhol, já que os espanhóis não falam nada de inglês e meu espanhol é meio esquisito. O mais estranho é que sempre que falo espanhol, falo inglês ao mesmo tempo. Acho que esse aprendizado de línguas estrangeiras deve ficar situado na mesma parte do cérebro, só pode ser..

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O meio acadêmico português

Há muito tempo que planejo deixar um post sobre o meio acadêmico português. Um assunto que me intriga profundamente é a postura de alguns alunos e professores. A competitividade entre os alunos por aqui é algo que me assusta e o estímulo dado a esta postura por alguns professores também. É claro que vivemos em um mundo capitalista, cada vez mais competitivo e individualista e toda essa história, mas não vejo nem nunca vi esse tipo de coisa no Brasil. Ainda mais num curso de comunicação que costuma ser, digamos, mais relax. Não há nada mais difícil aqui do que pegar anotações com alguém. Tirar cópia do caderno de alguém é algo meio impossível, acho hilário, mas é claro que existem exceções.
Eu quero que todo mundo se dê bem, que todos tirem notas fantásticas, não entendo porque algumas pessoas não são assim. Ouvi dizer que nas faculdades de medicina alguns alunos até disponibilizam resumos com informações erradas na xerox para que os outros alunos se saiam mal nas provas…
As notas aqui variam de zero a 20 e os alunos têm muitas chances para serem aprovados. Tem a prova normal ou trabalho, que chamam de avaliação contínua e, se não passarem, tem as frequências e, se não passarem novamente, tem os exames, que são realizados no fim do ano letivo. Parece fácil, mas em função de todas essas chances, os professores dão notas baixíssimas… Acho completamente sem sentido. Tive uma matéria esse período em que cada aluno teve que apresentar seminários individuais sobre diversos textos, buscando bibliografias complementares e coisas do gênero. A nota mais alta que a professora deu para as apresentações foi um 13, algo como um 6,5! Sinceramente, acho que a turma não é tão má assim… Eu tirei 12.. Uma das melhores… Não compreendo isto. O mais engraçado foi que a professora mandou um e-mail para o nosso grupo na internet com as notas de todos os alunos, os nomes e comentários tenebrosos sobre os trabalhos, ou seja, eu já sei quem escreve mal, quem tem problemas nisso ou naquilo. Fiquei embasbacada! Para mim, isso serve para estimular a competitividade. Claro que estudei Comunicação, não sei como é no Brasil em um curso de Medicina, por exemplo. E vocês, o que acham?

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O show que eu não fui!

Amigos,
Não sei se vocês estão a par, mas está tendo Rock in Rio por aqui. Eu e o Alexandre queríamos muito ver a Amy Winehouse, mas não conseguimos. Deixamos para comprar o ingresso em cima da hora, pois estávamos com medo que a senhorita não aparecesse, o que, cá entre nós, não era muito impossível. Assim sendo, os ingressos esgotaram-se! Não desistimos e fomos até à porta, afinal, não era possível que não houvessem cambistas num festival dessa proporção! Mas haviam muito poucos, escondidos, pois o policiamento estava forte. Encontramos um, com a camisa do Brasil, que estava pedindo 150 euros por cada ingresso!!! Demos uma risada e seguimos em frente.
Posso dizer que tive uma sensação muito diferente do Rock in Rio Lisboa. Sabe aquela história de fazer uma social na porta? Pois é, por aqui não existem camelôs vendendo bebidas na porta. Nem cambistas! Às vezes, sinto uma falta imensa do jeitinho brasileiro..
Decidimos sair fora quando vimos uns policiais abordando um dos poucos cambistas e, pasmem, as pessoas que estavam comprando os ingressos com os cambistas!
Viemos pra casa e decidimos ver o show pela TV. Que decepção! Amy apareceu, mas drogada e bêbada como nunca. Completamente sem voz, ela fez um show de apenas 45 minutos, caiu no palco e exibiu seu chupão no pescoço. Essa é a Amy Winehouse. Mas não vimos nem sinal daquele vozeirão...
A rainha da noite, por incrível que pareça, foi a Ivete. Profissionalíssima, levantou a galera portuga. Podemos não gostar, mas é impossível negar o poder da Ivete. Lenny Kravitz fechou a noite com um show politicamente correto.
Expiem um pouco do show da Amy Winehouse no link aí embaixo.

http://br.youtube.com/watch?v=eHgcMvhAl5c&feature=related

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Finalmente!

Nossa.. Sei que estou devendo um post há muito tempo.. Peço mil desculpas a todos os meus leitores assíduos.. Hehehe. Prometo escrever com mais frequência. A vida está muito corrida por aqui, muitas obrigações, pressão total!
Estou muito feliz agora que o meu amor está aqui ao meu lado, mas a vida anda bem complicada. Alexandre ainda não arrumou um emprego, a crise por aqui está feia e é mais difícil ainda para nós, estrangeiros. É difícil acreditar que entre países irmãos como Portugal e Brasil exista preconceito, mas existe. Essa semana passei por uma situação constrangedora. Estou trabalhando em outro call center, é um part-time de quatro horas por dia, para descolar uns trocos. É só o que eu consigo arrumar por aqui e dá para conciliar com o mestrado. Estou vendendo um serviço de IPTV, é um serviço semelhante ao disponibilizado pela TV digital e é vendido juntamente com Internet e telefone, chama-se triple play. Enfim, estava explicando os pacotes e tal e o homem do outro lado da linha, depois de perguntar-me tudo, disse que não fazia compras pelo telefone. Até aí tudo bem, normal. Logo em seguida, escutei a pérola: ainda mais quando um estrangeiro me liga, eu não contrato estrangeiros! Na hora, tive vontade de dar uma de Michael Douglas em “Um Dia de Fúria”, mas me segurei e só pensei em manter meu emprego. Fico pensando no que leva alguém a pensar isso. O que fez aquela pessoa julgar que o caráter de um brasileiro é diferente do de um português? Para mim, qualquer explicação a respeito dessa atitude é inaceitável. Mas bola pra frente…
Bem, falando de amenidades agora. Alexandre está revelando-se um ótimo cozinheiro, seu desempenho na cozinha evoluiu muito! Estou comendo melhor, parei de emagrecer, o que me deixou muito triste, estava muito feliz com minha rápida perda de peso. Agora é manter e tentar emagrecer um pouquinho mais. Rs.. Para quem não sabe, perdi oito quilos por aqui e Alexandre também está com as pernas tão fininhas…
A primavera se aproxima e, sinceramente, nunca aguardei tão ansiosamente a chegada do verão. Estou farta do frio, meus pés não respiram, o formato do meu dedo mindinho do pé até mudou, minha unha está curvada, espero que volte ao normal. Não aguento mais meus pés enclausurados, estou empolgada com o verão, quero acampar, comprar biquínis, ir à praia, aposentar minhas calças por um tempo, sair sem casaco. O calor torna as pessoas mais alegres. Acho que este é um fator que explica a alegria do brasileiro. O frio deprime.
Outra coisa que quero falar é sobre o Acordo Ortográfico. Vocês não imaginam o furor que isso tem causado por aqui. Os portugueses são muito apegados às tradições, têm medo de mudança. Quase ninguém é a favor do acordo. Estava assistindo ontem a um debate a televisão sobre o assunto e uma professora de Linguística estava dizendo que era um absurdo a predominância da oralidade sobre a linguagem escrita! A louca não percebe que a língua é mutante e que, se nada for feito, daqui a algum tempo falaremos línguas diferentes e não nos compreenderemos! Falaremos realmente “brasileiro” como eles dizem, o que será muito ruim para Portugal, já que o Brasil é bem maior. Eles ficarão isolados, já que a maioria dos países africanos que foram colonizados pelos portugueses, senão todos, não falam apenas português. Enfim, mas eles não querem mudar de jeito nenhum. Sei que tudo que é imposto é um problema, mas o acordo facilitará o intercâmbio cultural entre os dois países.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Funk, axé e Tropa de Elite

Quando falamos em música brasileira por aqui, é claro que todos conhecem Tom Jobim, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes, Elis Regina e tantos outros nomes da nossa MPB. Mas uma coisa é certa: os portugueses também conhecem o funk, o axé e até o “proibidão” de Tropa de Elite. A Tati Quebra Barraco é conhecida por aqui. Sério mesmo. E muitos outros. As meninas da faculdade conhecem uma gama imensa de funks, que nem eu ouvi falar. É engraçadíssimo. O axé também faz um supersucesso. A Ivete, principalmente.
Lá no trabalho, tem uma mulher com um parafuso a menos que fica ouvindo o Rap das Armas versão proibida no MP3 do seu celular e fala do Bope como se o nosso Batalhão de Operações Especiais fizesse parte de sua vida. Hoje ela passou o “proibidão” por bluetooth para o celular do meu coordenador!!! Ele assistiu à Tropa de Elite três vezes. Ela já viu umas cinco vezes e vibra com o “pancadão”. Hoje, disse a ela que tudo isso parece muito engraçado, essa história de uma música que só tem nome de armas, porque isso não acontece no país dela. Não tem apologia ao tráfico, não tem guerra pela posse das bocas de fumo… Porque aqui ninguém morre de bala perdida, ninguém escuta tiros e continua a agir com naturalidade como nós fazemos. Ninguém tem medo de pegar a via expressa de madrugada e ninguém anda agarrado com a bolsa no centro da cidade. Ninguém põe uma parte do dinheiro na meia, a outra no bolso da frente e a outra no bolso de trás. Muita gente nunca foi assaltada. No máximo, um furto… Sinto muita falta de várias coisas, mas não existe nada melhor no mundo que andar sem medo por aí, caminhar por uma rua desconhecida sem receio e andar de transportes públicos de madrugada. Da violência, eu não sinto falta nenhuma. Chego até a perguntar-me como conseguimos lidar com a realidade carioca.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Os desfiles

Nunca gostei de multidões, mas sempre gostei de assistir aos desfiles de carnaval. Lembro-me de quando era criança colocar o colchão na sala e lutar contra o sono para ver a Portela passar, sempre uma das últimas escolas. Nunca fui bem-sucedida no meu intuito. Ficávamos eu, minha mãe e minha avó, esta queria mesmo que eu torcesse pela Portela, tenho uma simpatia pela escola, mas emocionava-me mesmo com a União da Ilha, minha escola do coração. A União tem os melhores sambas de todos os tempos e, este ano, deve ter encantado o público na Marquês de Sapucaí com a reedição de “O amanhã”. A União da Ilha sempre diferenciou-se das outras escolas pela sua alegria, pela bateria nota 10 e pelos sambas lindíssimos, muito diferentes dos sambas de hoje, que mais parecem marchas que, de tão intensas, nem permitem o chacoalhar gracioso das mulatas. Tudo isso sem falar na quarta-feira de cinzas, que era sempre um evento. Qual escola seria a vencedora? Agora, todo o ano é a mesma coisa. A apuração também perdeu seu charme. Acho que a voz do cara que dá notas às escolas só é menos conhecida que a da mulher que anuncia os vôos no Galeão.
Não tenho como ver os desfiles daqui. Só são emitidos pela Globo Portugal, mas este canal é pago à parte, é um canal premium, não está incluso no pacote oferecido pela TV a cabo. Em vez dele, temos a Record Internacional… É realmente deprimente. A Record exibe o carnaval de Salvador, que só deve ter graça para quem está lá. É ridículo ver aquilo pela televisão. Sou mais o Carnaval da Sapucaí com seus carros alegóricos, fantasias, baterias… Mas, este ano, nem um compacto verei. No máximo, fotografias e uma notícia no telejornal daqui. Mas ainda desfilarei na Ilha. E no Grupo Especial! Será que a Ilha sobe este ano?
Ah, e todos aqui perguntam se eu sei sambar.. Hahaha. Acho que sei qualquer coisa. As meninas da faculdade querem até umas aulas… É, amigos, parodiando a Fernanda Abreu, o Brasil é o país do suingue! E eu vou virar até professora de samba! Eu!!!???

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O brasileiro

Quando estamos no Brasil, conversando sobre política, música e outras trivialidades, é comum falarmos do brasileiro em terceira pessoa. Dizemos: “o brasileiro é burro, não sabe votar, só ouve porcaria... Nunca nos incluímos. Mas, afinal, somos o quê? O que é a dita classe média brasileira? Escutamos bossa nova, mas gostamos do funk. Vamos ao rodízio japonês e no dia seguinte comemos pastel na feira. Quem somos nós para dizermos que não fazemos parte dessa cultura, seja ela considerada boa ou ruim pelos formadores de opinião? Pois digo que fazemos parte sim, e é isso que forma uma unidade, um “eu sou brasileiro” nesse país de dimensões continentais. Rezamos para os santos, jogamos flores para Iemanjá e frequentamos o centro espírita. Quem nunca fez isso?
Aqui, longe do meu país, percebo que o povo brasileiro tem uma unidade, embora sejamos um país com enormes desigualdades sociais. Tenho encontrado muitos brasileiros e conversado com eles. Me identifico com todos eles, sejam pobres, ricos, instruídos… Quando estamos longe do nosso país, começamos a nos considerar brasileiros, a defender nossa cultura e a ter orgulho das qualidades da nossa “nação”. O que vejo e ouço conversando com portugueses é que o imigrante brasileiro é festeiro, trabalhador, alegre, delicado, educado, corajoso e muito mais.
Começo até a ter orgulho da Globo, se é que isso pode ser chamado assim. Fazemos as melhores telenovelas do mundo, que são muito melhores que os enlatados americanos. Somos realmente a Hollywood da TV. Temos que ter orgulho disso e parar de pensar que telenovela é coisa de alienado. Nosso jornalismo é dinâmico e ousado. Nossa publicidade tem uma qualidade superior a de muitos países. Estamos produzindo biodiesel! Tivemos a coragem de eleger um líder sindicalista, embora ele tenha nos decepcionado. Enfim, também temos que lembrar das coisas boas do nosso país. Quem se lamenta todo o tempo são os portugueses. Hehehe.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Saudades gastronômicas

Em Portugal, come-se muito bem! É a mais pura verdade. Mas come-se bem a comida portuguesa. Só para ficar registrado, aqui não tem ou não vende: pastel, pão de queijo, brigadeiro que preste (eles põem leite!), feijão bem temperado, picanha decente, couve mineira, carne seca com aipim, frango à passarinho, baião de dois, queijo coalho, torta de limão, cachorro quente com molho, linguiça de churrasco, farofa, beijinho, casadinho, manteiga de garrafa, caldo de feijão, sopa de ervilha e por aí vai. Por isso, quando vierem me visitar, não se aventurem pelos ditos restaurantes brasileiros. Comam comida portuguesa, essa sim, feita por quem sabe das coisas. Também não comam bolos, são todos secos, duros… Um horror.. As pizzarias daqui oferecem gelatina como sobremesa! Nada de mousse de chocolate… Rs. Enfim, em Portugal, comam sardinhas, bacalhau, chouriços, açordas, novilho, leitão e pastéis de nata!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A ética jornalística

Os organismos de regulação da mídia portuguesa têm uma especial preocupação com a ética jornalística, ao contrário do que ocorre no nosso país. As chamadas normas deontológicas dão credibilidade às publicações locais, até mesmo a TV e o rádio destinam espaço ao chamado provedor, que nada mais é que o ombudsman. Para quem não sabe, ombudsman é um profissional contratado por um órgão, no caso, os órgãos de comunicação, que tem a função de receber críticas, sugestões, reclamações e deve agir em defesa imparcial da comunidade. Para isso, algumas questões têm de ser observadas com muito cuidado. O ombudsman tem um mandato de, no máximo, dois anos, improrrogável. Geralmente, é um jornalista de longos anos de carreira, renomado, e não tem qualquer vínculo profissional para a empresa a qual presta seus serviços. Ele recebe reclamações de leitores, espectadores e ouvintes e analisa se o fato noticiado pelo órgão de comunicação para o qual trabalha foi apresentado com a imparcialidade exigida e sem o famigerado sensacionalismo. Nos jornais, o ombudsman costuma ter páginas fixas nas publicações e estas destinam-se a uma discussão sobre os padrões éticos e deontológicos dos produtores de informação. No Brasil, alguns jornais, entre eles, a Folha de São Paulo, têm esse espaço e alguns sites, como o UOL também. Aqui em Portugal, isso é comum. O provedor da TV pública portuguesa tem um programa no qual fala sobre a ética da própria emissora. O alcance de um programa sobre esse assunto é bem mais abrangente que páginas nos jornais, que, normalmente, são lidas apenas pelos assinantes. Tudo isso me faz acreditar que a existência de um outro jornalismo ainda seja possível.
Mas é claro que nem tudo são flores. O sensacionalismo também tem seu espaço por aqui. O caso da menina inglesa Maddie que desapareceu enquanto a família passava férias no Algarve foi explorado infinitamente pela imprensa portuguesa e ainda continua a ser. Sem desmerecer o fato, milhares de crianças desaparecem em Portugal e em todos os lugares do mundo, mas Maddie atraiu a atenção de todos por seu rosto angelical de menina inglesa, loirinha de olhos azuis. Sua foto vende.

New job!

Como vocês sabem, saí daquele emprego de telemarketing. Aquilo não era para mim. Não sou de RH, mas sei qual é o meu perfil. Agora estou em uma empresa de estudo de mercado, de sondagem de opinião, tipo o nosso Ibope. Faço pesquisas por telefone, trabalho bem mais tranquilo, apesar de não ser fácil, pois as entrevistas são muito longas. Mas, pelo menos, tenho um fixo e ganho mais um valor por cada entrevista. Meus colegas de trabalho são divertidíssimos, rimos bastante com as desculpas dos entrevistados… Esta semana, também fui a uma entrevista para jornalismo. Aos poucos, as oportunidades começam a surgir. Preciso de sorte e de cunhas! Cunha é o nosso famoso QI. Estou fazendo amizade com os professores, dedicando-me, buscando uma brecha para infiltrar-me no bendito sistema, que, ao longo dos anos, tem insistido em boicotar-me.
No trabalho, estou fazendo uma pesquisa sobre telecomunicações, mais especificamente sobre empresas de telefonia celular, sobre a rede fixa e sobre serviços por cabo. Fico impressionada com as respostas das pessoas. Nós realmente somos massacrados pela tecnologia. Me digam: qual é o propósito de termos um celular de terceira geração, os chamados 3G, que permitem a execução de videochamadas, se não usamos este serviço? É isto que a tecnologia faz, foi o que pude comprovar nas entrevistas que fiz. Cada vez mais, temos celulares com serviços que não utilizamos, computadores que possuem uma tecnologia que não usamos e que estará obsoleta daqui a um ano. Mas temos que continuar comprando. Nada me tira da cabeça que os celulares, computadores, Ipods, Iphones e afins já estão bem mais evoluídos dos que os que encontram-se no mercado, mas não são postos à venda para irmos comprando aos pouquinhos e gastando o dinheiro que nos custa ganhar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A passagem de ano

Acharam estranho a expressão "passagem de ano"? Pois é assim que chamam aqui a nossa virada, o nosso reveillón. É algo como passagem "dano", tudo meio junto. Minha passagem de ano foi bem tranquila, fui à casa de uma amiga brasileira e comemos muito. Sem festança, sem me vestir de branco, mas foi legal. Aqui as pessoas não se vestem de branco na virada. Os pedidos são feitos com passas, comemos 12 passas em cima da cadeira, todos segurando em uma nota de 50 euros para termos muito dinheiro em 2008. O ideal seria uma nota de 100, mas essa é difícil de encontrar. Não vi muitos fogos, mas fiquei impressionada com uma tradição que eles têm por aqui. À meia-noite, todos batem as panelas na janela, é um barulho muito legal. Gostei.
A Praça do Comércio, no Terreiro do Paço, teve concertos (shows) e na Expo teve queima de fogos. Estava muito frio no dia 31. Minha garganta não estava muito boa, por isso decidi passar em casa.
Vimos o reveillón dos Gatos Fedorentos na RTP. São humoristas, se parecem um pouco com o Casseta e Planeta nos áureos tempos. Mas é algo politicamente incorretíssimo, os caras são hilários. Os portugueses muitas vezes me surpreendem, me espanto como os Gatos têm espaço na TV, e ainda é na TV pública! Um humor desse tipo nunca seria permitido na TV brasileira. A TV brasileira é muito politicamente correta.
Ah, e Woody Allen e seu grupo de jazz se apresentaram no Cassino Estoril. Dava tudo para estar lá. O traje era smoking e tinha faisão no menu. Tudo isso pela bagatela de 500 euros. Algo impossível. Mas imaginem! Ficar lado a lado do mestre. Ele com seu clarinete.. Ia me sentir uma personagem de seus filmes.. Mas não foi desta vez.