Bem-vindos!

Sejam bem-vindos a este blog de uma brasileira que vive em Lisboa e "anda" por Portugal. Aqui vocês podem saber quais são minhas impressões desta terrinha lusa.
Lembrem-se: os meus textos estão escritos em português do Brasil, pois a maioria dos meus leitores é brazuca. Mas, com o passar do tempo, já cometo deslizes... Caraças, pá!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Uma amiga para a vida toda

Amanhã fecho mais um ciclo. Deixo meu quarto e vou passar uns dias na casa da minha avó antes de ir ao Brasil. Deixo também minha amiga chinesa, a Pan Tan, ou Helen, como prefere ser chamada. Ela volta para a China em setembro. Segundo ela, ninguém consegue falar corretamente seu nome, então ela prefere ser chamada pelo nome que lhe foi dado pela professora do curso de português. A propósito, aqui em Portugal, eles dizem Elen, pois não pronunciam o “agá”.
A Helen apareceu por acaso em minha vida. Alugou o quarto e foi se chegando, de repente, com uma simpatia de dar inveja a nós, brasileiros. A Helen ter orgulho em ser chinesa, é uma “business woman”. Ela nunca ouviu falar no Nirvana, nos Rolling Stones e só tinha visto a Madonna depois de velha. Mas ela gosta da Madonna. Acha “very nice”.
O português da Helen evoluiu muito, mas eu, por conformismo e um pouco de egoísmo, prefiro comunicar-me com ela em inglês, que, por sinal, depois destes seis meses de conversação, está bem mais fluente.
A Helen me ensinou muitas coisas sobre a vida e sobre como olhar o mundo. Ensinou-me a ser mais paciente, a pensar à frente, a ter mais confiança e a acreditar mais nas pessoas. Ela não é budista, acredita no “fluxo de energia” e está sempre falando nisso. Ela não entende como alguém pode ir para a cama com alguém que mal conhece, mas entende como alguém pode se casar virgem. Os valores da Helen são totalmente diferentes dos valores ocidentais.
É uma menina do Norte da China, mas estudou em Xangai. Ama Xangai e quer passar o resto dos seus dias por lá. Não tem irmãos, como era de se esperar, mas gostaria de ter muitos.
A Helen come couve no café da manhã. Frita tudo. Tem uma frigideira enorme. Em compensação, come frutas o dia todo. Ela também toma chá de flores. Várias florzinhas boiando na caneca. Tenho vontade de vomitar!
O computador e o celular dela são em chinês. Ou melhor, em mandarim. Mandarim é a língua oficial da China. É a língua escrita oficial porque, no que diz respeito à fala, o negócio é diferente. Existem muitos dialetos no país. Ela me explicou que o mandarim tem mais de 5 mil caracteres e que eles expressam idéias, não correspondem a letras, como os caracteres do nosso alfabeto. É claro que os 5 mil caracteres não conseguem exprimir tudo que deve ser dito, portanto, alguns caracteres são utilizados juntamente, ou seja, algo realmente complicado para nós, ocidentais, entendermos.
Ela me mostrou música pop chinesa no youtube. Também me mostrou a música tradicional e fotos maravilhosas. Ela me disse que os homens chineses tratam as mulheres como princesas. Ela acha que os homens europeus são agressivos.
Ela me contou como nasceu o Japão! Segundo ela, há milhares de anos atrás, o imperador da China queria tornar-se imortal e mandou um barco com 100 moças e 100 rapazes chineses para o mar em busca do segredo da imortalidade. Algo meio Arca de Noé, mas sem os animais. Eles, obviamente, não o encontraram e acabaram por fixar-se em uma ilha, cultivaram a terra, reproduziram-se.. Daí surgiu o Japão! Adorei essa história e perguntei a ela se era uma lenda. Ela disse que não, pois os chineses são obcecados por essa idéia de vida longa e imortalidade, portanto, ela não acha difícil que, há milhares de anos atrás, o imperador acreditasse nessa possibilidade. Além disso, ela me disse que existem muitas semelhanças entre o mandarim e o japonês. Segundo ela, ela consegue entender o japonês escrito, mas não consegue falar.
Ela disse também que só se comem insetos e cachorros em uma parte da China. Ela não come, mas apareceu em casa, uma vez, com uns pés de galinha nojentos e não cansava de dizer que aquilo era delicioso. Até pegou uma receita na Internet.
A Helen acha o povo português muito pessimista. Ela comprou o Interrail e viajou a Europa toda. Adorou Veneza, mas não gostou muito de Paris. Ela não sabe lavar a louça direito. Ela diz que é gorda para os padrões chineses. Ela queria inscrever-se em uma aula de hip-hop! Ela adorou o Alexandre. E ele também a adorou. Mesmo com as “falhas” na comunicação.
Ela é íntegra, honesta, parceira e muito educada. Leonina. Ela nasceu no mesmo ano que eu. No horóscopo chinês, somos cachorro. Isso quer dizer que somos leais. Vou sentir falta dela. Das pipocas, das noites vendo desenhos animados e filmes da Disney. Dos conselhos. De tudo! I will miss you, my chinese friend!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Família em Portugal

Na última quarta-feira, meu pai, minha irmã e minha madrasta voltaram para o Brasil. Eles estiveram aqui por três semanas e estive com eles este tempo, lá na terrinha, mas viajamos bastante. Já me sinto só, depois de tanto tempo, estou novamente sem companhia. A boa notícia é que vou ao Brasil em setembro! Nem acredito ainda. Acho que só vou acreditar quando tiver a passagem em mãos. Mas não, nada vai atrapalhar meus planos. Hehehe. Já estou de férias, mas a passagem está muito cara agora em agosto, o preço cai quase pela metade em setembro! Tem de ser assim. Assim sendo, vou ver se descolo um emprego de verão para ganhar dinheiro agora em agosto e me ocupar.
Este período com a minha família foi ótimo, pois serviu para eu conhecer pessoas da minha família que eu não lembrava ou que nunca tinha conhecido. Minha irmã também já está crescidinha e me faz companhia. Além disso, passamos por muitos lugares legais: Batalha, cidade onde os portugueses derrotaram os espanhóis pela primeira vez quando estes dominaram Portugal; Fátima, cidade em que Nossa Senhora de Fátima fez sua primeira aparição e que recebe peregrinos o ano todo; Buçaco, é um lugar que tem um hotel lindíssimo em que o rei e a rainha hospedavam-se; Conimbriga, é uma cidade antiga que ainda está sendo escavada e que foi sede de uma civilização no século VII A.C.; Coimbra, bem, acho que essa dispensa explicações e Aveiro, que é uma cidade maior, mais desenvolvida. Também fomos a Santiago de Compostela, capital da Galiza, na Espanha. A cidade é uma graça e a catedral é imensa. O Paulo Coelho descreve o caminho para Santiago de Compostela no “Diário de um Mago”. Mas não fiz a peregrinação, fui de carro mesmo. Hehehe. Para ver mais, vejam minhas fotos no orkut. Y hasta luego, amigos!

Sem saco para escrever..

Alguém tem uma fórmula que diga como criar uma rotina para escrever no blog? Ainda não descobri como fazer isso. Mas, sinceramente, acho que o legal disso aqui é escrever quando eu quero, sem obrigação. Quando estou “in the mood”, quando dá na telha, quando me apetece..

Madri!

Vou começar descrevendo minha viagem a Madri ou Madrid como dizem por aqui. Uma amiga minha do Brasil, a Milena, que muitos de vocês conhecem, esteve aqui em Lisboa a trabalho e decidimos passar um fim-de-semana na Espanha. Chique, não? Não, não tem nada de chique. Nós, brasileiros, temos que parar com essa idéia que tudo por aqui é chique, não é! Muitos amigos vêem minhas fotos e dizem: “ai, que chique!” Às vezes, o lugar não tem nada de chique, é uma rua comum, que só parece chique porque eu apareço usando casacão e cachecol. Eu penso que o frio deixa os lugares mais chiques para quem vê, ainda mais aos nossos olhos, pois vivemos em um país tropical. Não dá para ficar chique usando short e havaianas, né?
Bem, mas em Madri não estava frio, muito pelo contrário. Estava um calor dos infernos, digno de um dia de verão no Rio de Janeiro. Viajamos de trem em uma cabine com dois beliches. Demos sorte, pois as meninas que iam viajar conosco não apareceram e a cabine ficou só para nós. Nunca tive uma viagem tão confortável. Dormi em Portugal e acordei na Espanha. De capital para capital em 12 horas. Foram 12 horas muito bem dormidas.
Saímos da estação de trem e pegamos o metrô. Vocês não têm idéia de como é confuso o metrô nesta cidade. São 12 linhas! Mas, de forma geral, nos saímos bem e fomos ao hotel. Pagamos um supermico de turistonas, pois compramos aquele passe do ônibus turístico, que é aberto no andar superior. Não foi uma escolha muito feliz, pois com o calor que estava fazendo a viagem não era nada agradável lá em cima.
No primeiro dia, fomos ao Museu do Prado. Isso sim foi chique. Nunca tinha visitado um museu com obras de arte tão famosas, fiquei alucinada! Vimos uma exposição do Goya e o acervo do museu, que conta com obras de El Greco, Rafael, Velásquez, Tiziano, Rembrandt e Bosch, além de muitos outros. O museu é enorme e essa pressa em ver tudo deixou-me extremamente aflita. Pouco tempo e tanta coisa para ver, para assimilar.. Outro dia, em uma aula de estética, um professor meu disse que nós não vivemos mais na era da contemplação e que, por isso, a pintura não atrai mais tanta atenção das pessoas, que, hoje, é necessário movimento. É a era da imagem em movimento e da interatividade. Acredito que os organizadores de exposições deveriam pensar mais nisso para atrair mais frequentadores. Interatividade não é passar um videozinho, é apelar para todos os sentidos. Isso não nega a pintura, mas por que não “acoplar” música e pintura? Acho que as pessoas poderiam receber fones de ouvido que funcionassem como uma espécie de guia, sei lá. Só sei que algo precisa ser feito. Enfim, essa é uma opinião pessoal, mas não acho que algo escrito em uma parede funcione.
Ainda no primeiro dia, decidimos encontrar o Porky, um amigo nosso que está morando em Madri. Ele foi muito legal com a gente, nos encontrou no hotel e fomos andando até o centro. Mais uma vez, optamos pelo programa de turismo: 10 euros por três discotecas com direito a uma bebida em cada uma. A primeira discoteca era muito fraquinha e o calor estava de matar. A que eu mais gostei foi a segunda, mas não era bem uma discoteca, era um pub irlandês com música. Era véspera da final do Euro (Espanha e Alemanha) e, em todos os lugares, ouvia-se aos berros o hino da Espanha. Os espanhóis são mesmo barulhentos. Saindo dessa discoteca, fomos para a última. Vocês não têm idéia de qual foi meu espanto. Uma espanhola na noite é pior que dez brasileiras juntas. É sério. As mulheres se esfregam em todos os caras do lugar! Fiquei no meu cantinho, encostada na parede, amuada.. E exausta! O dia seguinte seria mais um longo dia.
No domingo, acordamos o mais cedo que conseguimos e fomos à Feira do Rastro com o Porky. É uma feira da ciganada, uma espécie de Uruguaiana gigante. O cuidado é o mesmo, bolsa bem presa embaixo do braço. Os ciganos têm a fama de serem mestres na arte de bater carteira, principalmente as senhorinhas. É preciso ficar atento. Não gostei de muita coisa na feira, mas acabei comprando um vestido meio riponga e, é claro, leques!
Em seguida, voltamos à supermaratona dos museus. Fomos primeiro ao Museu Reina Sofia e estava quase fechando. A propósito, na Espanha, a sesta é oficial. É verdade! Duas horas para tirar uma soneca depois do almoço. Depois, somos nós que não gostamos de pegar no batente! Enfim, conseguimos entrar no museu! De graça. Era uma promoção nesse dia. É neste museu que fica Guernica. A dimensão do quadro é absurda! É uma coisa enorme. Lindo de morrer. O museu também tinha muitos outros quadros de Picasso, Dalí, Mondrian, Miró.. Este museu era mais moderno. Fomos correndo depois ao museu Van Thyssen. Esse foi um dos mais lindos. Dalí, Van Gogh, Lautrec, Degard, Degas (eu vi o da bailarina!), Monet, Renoir, Modigliani.. Achei o máximo o fato de eles colocarem banquinhos nas salas para olharmos os quadros. No fim, não conseguia mais andar. A dor muscular estava forte e não tinha nenhum Dorflex por perto.
Fora tudo isso que acabei de contar, vi o estádio do Real Madrid; dei um pulo no bairro dos escritores, onde Cervantes viveu; tomei meu primeiro Starbucks; pensei no Alexandre o tempo inteiro, em como ele iria morrer em ver todos aqueles quadros de pertinho e no quanto quero fazer isso com ele; comi comida espanhola; fui no Mc Donalds (meu computador não tem apóstrofo) espanhol, pois a grana já estava curta; vi o entusiasmo dos torcedores espanhóis e seu vandalismo no metrô; tirei muitas fotos e tentei falar espanhol, já que os espanhóis não falam nada de inglês e meu espanhol é meio esquisito. O mais estranho é que sempre que falo espanhol, falo inglês ao mesmo tempo. Acho que esse aprendizado de línguas estrangeiras deve ficar situado na mesma parte do cérebro, só pode ser..